sexta-feira, 24 de junho de 2011

Cont. Clarice Lispector 5

  [...] Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
  Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
  Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
  Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
  Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade.
  Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
  Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
  Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
  Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
  Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
  Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram. Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.


Clarice Lispector

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